Alma Peripatética

Assim como os peripatéticos de Aristóteles, todos somos itinerantes. Talvez não no sentido literal da palavra, mas sempre estamos em movimento. Nosso aprendizado se dá desde sempre e quem sabe antes mesmo de nascermos. Alma, corpo, espírito, são coisas complexas demais para termos certezas. O ser humano adora afirmar as "verdades" que possui, mas isso me parece uma forma de "blindagem" contra as dúvidas da nossa existência, uma forma de burlar a angústia que o "não saber" nos provoca. Se pensarmos bem, nosso conhecimento é tão limitado que, de certa forma, não podemos culpar aqueles que não o procuram. Mesmo em ritmo menor, ainda assim, essas almas estão em movimento, avançando e aprendendo. Ninguém é igual depois de um segundo. E é exatamente esse movimento que faz com que nossas experiências nos moldem a cada tic tac do relógio da vida. 
Por isso é tão importante que usemos este tempo tão precioso, cuidando de nós mesmos. Esse cuidado implica a preocupação com você e com o todo ao seu redor. Essa relação, que anda tão abalada, é imprescindível para a evolução da raça humana.
Pensando assim, talvez o "olhar para dentro de si" já seja uma forma de entendermos o todo. Se a humanidade é coletiva, entender a nós mesmos é uma forma de entender o próximo. Óbvio que temos inúmeras variantes entre eu e você, mas o que nos iguala é justamente a diferença. E o entender das diferenças, nos faz entender a humanidade. A importância que nossa sociedade atribui à igualdade, talvez esteja exageradamente posta como algo necessário e que nos torna fracos. Afinal, ninguém é igual e, nos limitarmos a estabelecer a igualdade, está velando o verdadeiro sentido da nossa existência.
Acredito que tudo o que sempre procuramos do lado de fora, sejam deuses, sentido da vida etc, está em suma dentro de nós mesmos. Há muito perdemos nossa conexão interna. Em tempos longínquos, quando o homem tinha uma ligação extremamente íntima com o planeta (julgo não a termos mais), éramos muito mais conhecedores de nós mesmos, uma vez que isso significava viver ou morrer. Se não conhecêssemos nossas capacidades, nossos limites, não sobreviveríamos muito tempo. Hoje, somos guiados por influências externas, muito mais do que pelas nossas concepções. Enfim, o que quero dizer é que os deuses, os segredos, os questionamentos, todos eles, estão dentro de nós mesmos. Somos parte dos mistérios, parte dos deuses, parte da imensa interrogação cósmica que nos cerca e que estamos muito longe de desvendar...

 

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